Em protesto, carroceiros queimam pneus e interditam várias vias da Região Metropolitana do Recife
Trabalhadores são contra recolhimento de animais
Em protesto, um grupo de carroceiros queimou pneus, fios e interditou várias vias da Região Metropolitana do Recife. Nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira (16), eles bloquearam o cruzamento das avenidas João de Barros com a Norte, na Encruzilhada, Zona Norte da capital.
Depois que o Corpo de Bombeiros atuou na ocorrência para apagar as chamas, o grupo seguiu em direção à avenida Agamenon Magalhães, no Espinheiro, próximo ao Ministério Público Federal (MPF). Os manifestantes interditaram a via local, no sentido Boa Viagem. O Corpo de Bombeiros também apagou o fogo no local.
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O grupo também ocupou a BR-101, na altura do quilômetro 71, na entrada do bairro de Jardim São Paulo, Zona Oeste do Recife. A via no sentido Paulista ficou parcialmente interditada, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Motivação
De acordo com os manifestantes, a mobilização acontece contra a Lei Municipal nº 17.918/2013, que proíbe a circulação de veículos de tração animal, a condução de animais com cargas e o trânsito montado no município. O decreto prevê a retirada gradual de veículos do tipo, com um prazo de dois anos para implementação completa. A justificativa dos trabalhadores é de que esse é o "único meio de sustento" da categoria, que, em sua maioria, é formada por pessoas analfabetas e de baixa escolaridade.
“Estamos fazendo esse protesto porque estão entrando nas nossas casas e levando os nossos cavalos. No bairro dos Coelhos, por exemplo, amassaram até a carroça de um dos nossos colegas e levaram tudo. Estão nos ‘apertando’. Isso tudo aqui é caro e é tradicional”, frisou o líder do protesto, Ronald Amorim, de 34 anos.
O motorista de ônibus Paulo Cordeiro, 61, estava passando no local e viu a manifestação. Ele mora no Coque, Zona Sul, e ia para o trabalho, na Encruzilhada, quando parou, desceu da moto e decidiu apoiar os manifestantes.
“Parei, estou aqui participando e filmando, porque esse pessoal é pai de família. São trabalhadores e a maioria é analfabeta. São pais, avós e precisam desse pão de cada dia para levar o alimento para casa. A tração animal sempre foi usada para o trabalho. O que a gente precisa é que seja legalizado. Esse pessoal precisa que seja feita uma linha de trabalho sincera. Ou seja, aquele que tiver maltratando os cavalos que paguem por isso. Quem quer trabalhar que seja liberado. Coloquem placa e orientem também”, sugeriu.
Equipes da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) e da Polícia Militar de Pernambuco estiveram no local para orientar o trânsito e cuidar da segurança da área, respectivamente.
Segundo o líder Ronald, a manifestação pode voltar a acontecer em vários pontos da cidade, ao longo do dia.
E a Prefeitura do Recife, o que diz?
A gestão municipal afirmou desconhecer apreensão de animais por causa desse tipo de trabalho. O que a Prefeitura do Recife afirmou acontecer é o recolhimento, em virtude de maus-tratos, o que é crime, conforme a lei nº 9.605/1998, que prevê sanções penais e administrativas, com penas que variam de três meses a um ano de detenção, além de multa.
Por meio de nota, a gestão afirma que, nos últimos anos, reuniu-se com representantes de grupos de carroceiros e vaqueiros da capital, no intuito de sensibilizar para os cuidados com o bem-estar animal e apresentar soluções para a retirada gradual dos veículos de tração animal e alternativas sociais e de empregabilidade aos trabalhadores. A gestão reafirma ainda que mantém o diálogo aberto com a categoria e reforça que está em curso um censo até o dia 30 deste mês, cujo objetivo é contabilizar os animais utilizados, identificar os condutores envolvidos nessa atividade e dar apoio na relocação no mercado, a fim de garantir novas fontes de renda para as famílias.
“Nessa etapa, a Prefeitura destaca que o animal e a carroça serão cadastrados e identificados, mas não ficando apreendidos. O equino recebe um microchip sob a pele, com um número de identificação, e a carroça, um adesivo impermeável de identificação. A partir de agosto, os condutores cadastrados serão convocados para comprovar as informações declaradas. Quem atender aos requisitos, estará apto a receber indenização pela entrega voluntária da carroça e do animal, se houver. Além disso, terá acesso a uma rede de qualificação profissional e apoio ao empreendedorismo, encaminhamento e assistência a vagas de emprego pelo GO Recife, vagas de trabalho na equipe de limpeza urbana da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), entre outros benefícios”, finaliza o comunicado.
As resoluções citadas pela Prefeitura do Recife foram publicadas na edição de 31 de maio último do Diário Oficial da cidade. Nas vias coletoras, segundo o documento, os animais devem circular das 9h às 16h e das 21h às 6h. Já nas vias locais, o horário indicado é das 9h às 17h e das 20h às 6h.